terça-feira, 26 de outubro de 2010

Psicólogos cobram caro apenas para ouvir você falar?

E se você pensa dessa forma, também deve ser perguntar porque deveria pagar a alguém desconhecido para lhe ouvir, se seu amigo ou sua amiga fará a mesma coisa sem cobrar nada, e ainda por cima te conhece muito bem.

É uma pergunta lógica, mas esconde alguns equívocos. Em primeiro lugar, nenhum psicólogo atenderá ou tratará você da maneira que um amigo faria. Não somos formados ou treinados para sermos amigos. Os procedimentos são diferentes, existem técnicas específicas, e conhecimentos que vieram de pesquisas científicas e resultados comprovados ao longo de anos de existência da Psicologia.

É bom ter amigos dispostos a ouvir e aconselhar, isso é extremamente saudável, mas eles não farão por você o que um psicólogo faria, assim como um psicólogo não fará o que um amigo faria por você. Cada um tem seu espaço e sua importância.

Uma das diferenças está exatamente no fator “não conhecer”. Se você tiver um problema e procurar um psicólogo, ele começará a conhecê-lo a partir da primeira sessão. Com isso, ele poderá te ajudar com o que ele sabe sem nenhum laço afetivo muito forte ou comprometimento emocional que possa distorcer a forma dele pensar sobre sua situação.

A amizade, em geral, cria um laço muito bonito entre as pessoas, e as torna próximas. Assim, é provável que seu amigo ou amiga já o conheça a muito tempo, saiba de antemão coisas sobre você, mas justamente isso pode contaminar a forma dele pensar na hora de falar com você. É importante, mas não é um tratamento.

Layout muito usado pela
Psicologia Cognitiva-comportamental
Imaginemos que você tenha acabado um relacionamento, e tenha se sentido muito mal com isso, e vá se “consultar” com um amigo. A tendência é que ele tente te colocar prá cima, a defendê-lo independente do que ocorreu, a falar aquilo que ele acredita que lhe fará bem. Isso é bom e agradável, mas nem sempre ajuda. Se você estiver precisando de uma orientação profissional, precisa de um espaço para pensar criticamente o que você está fazendo, não apenas o que fez de certo, mas o que fez de errado também. Não apenas ganhar elogios, mas pensar se seu comportamento está sendo bom para você e quais responsabilidades você tem sobre o que ocorre com você.

Por isso, são duas formas diferentes de lidar. Não estou dizendo que ao procurar um psicólogo ele apenas irá te maltratar e te fazer sentir mal. Não é isso. Estou dizendo que a forma com que ele irá lidar com você, será mais profissional, centrada, visando lhe permitir superar o problema, sem que emoções estejam direcionadas a você. Seu amigo se importa com você porque ele gosta muito e tem toda uma história com você, seu psicólogo se importa porque é um profissional e seu trabalho é esse, e isso permitirá menos distorções no modo de compreender sua situação.

Exatamente por esse motivo somos impedidos de atender pessoas que tenham muita proximidade conosco, como parentes e amigos próximos. Há até mesmos professores que evitam atender seus próprios alunos de faculdade, acreditando que o tratamento não daria tão certo.

Atendimento infantil
Outra coisa importante é que não ficamos apenas ouvindo por uma hora. Enquanto ouvimos, tentamos compreender, conversamos com um objetivo estabelecido, e alguns, como os cognitivos, anotam coisas importantes para aterem-se a elas e para que você veja o que você mesmo disse e possa refletir sobre isso. Após o paciente sair do consultório, a sessão dele acabou, mas não a nossa. Ainda estudaremos a situação, pensaremos nas próximas sessões e em formas de melhor ajudar o paciente. São partes do trabalho que de fato não são vistas pelos usuários de nossos serviços, mas que existem. Em média, para cada uma hora semanal de um paciente, usamos várias outras direcionadas a ele para um melhor tratamento, e muitas vezes ele não sabe disso.

Layout utilizado por algumas linhas da
Psicanálise, com a presença do divã
Apenas para exemplificar, um paciente que faça um teste Rorschach, por exemplo, pode demorar em média uma ou duas sessões para completá-lo, no entanto, o trabalho conseqüente do terapeuta para conseguir o resultado pode chegar a um dia inteiro de trabalho.

Claro que ainda existem algumas linhagens e formas de condução onde o psicólogo parece ficar totalmente inerte frente a um monólogo do paciente, mas além delas estarem caindo em desuso, não significa que a análise posterior do material não confira trabalho a ele.

Portanto, não se preocupe, você não joga seu dinheiro fora quando solicita os serviços de um psicólogo, e se acredita que isso está ocorrendo, é seu direito procurar outro profissional que melhor lhe atenda.





Andre Borghi

Depressão é frescura e falta de vontade de se curar?



Esse é um mito, talvez dos mais perigosos, porque faz as pessoas não levarem a Depressão a sério, e faz com que aqueles que sofrem com ela, também sofram com o preconceito. Se é frescura e falta de vontade, então elas não estão realmente doentes, mas preguiçosas e reclamonas.

No entanto, não é nada disso. A Depressão é um Transtorno do Humor, uma doença séria que não ocorre por frescura. A pessoa que sofre depressão tem um desequilíbrio químico no cérebro, produzindo menos de alguns hormônios, como serotonina, ou utilizando-os de forma incorreta. Somado a isso, normalmente há alguma situação que desencadeia a doença e coloca a pessoa numa circunstância, que se não levada a sério, pode piorar e mesmo causar a morte.

É uma doença que possui uma predisposição biológica, ou seja, a pessoa tem um funcionamento (normalmente esse desequilíbrio químico) que faz com ela tenha muitas chances de ter depressão, e que é acionada quando algo ocorre. Se a depressão fosse um revólver, a predisposição seria a munição. Se sua arma está carregada, ela tem mais chances de atirar. Quando se apertar o gatilho, que é alguma situação da vida da pessoa, a arma dá o tiro. Seguindo essa analogia, é assim que a Depressão se instala.

A Depressão modifica a forma de pensar e analisar os fatos da pessoa, portanto os argumentos que julgamos simples e racionais simplesmente não irão funcionar. Alguns depressivos chegam mesmo a pensar em se matar, o que chamamos de ideação suicida. Esses são os casos mais sérios e precisam de emergência no atendimento psiquiátrico.

É uma doença tão séria que requer cuidados de psiquiatras, psicólogos e outros profissionais em um esforço conjunto para ajudar a pessoa. Dizer a uma pessoa com depressão para que saia dessa  deprê, supere os problemas, veja como a vida é bonita, que ela não devia se dar ao luxo de reclamar tanto em um mundo tão difícil, são coisas que não ajudam, não surtem efeito e podem piorar a situação, tornando a pessoa irritada ou fazendo-a se sentir culpada por não conseguir “melhorar” através de métodos tão simples.

Ao invés disso, diga-lhe que há profissionais que podem ajudá-la, e se for o caso, encaminhe-a. Com certeza ajudará muito mais.


Andre Borghi

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Os testes das Revistas do tipo Capricho são testes de Psicologia?

Apesar de essa resposta tirar a graça de umas das maiores atrações desse tipo de revista, é necessário dizer a verdade. Não são testes de Psicologia, e se fossem, não poderiam estar lá. Se são e estão, é porque não possuem mais validade científica.

O motivo é simples. Por lei, todo e qualquer teste da área de Psicologia pode ser aplicado apenas por um psicólogo, ou nas faculdades, por estudantes para treinamento, e supervisionados por um psicólogo. São instrumentos exclusivos de quem é psicólogo, da mesma forma que a prescrição médica é um instrumento exclusivo dos médicos. Todo esse cuidado é para que o funcionamento dos testes seja apenas de nosso conhecimento, e com isso, consigamos preservar os resultados que ele produz.

Vamos imaginar uma situação : João, 25 anos, vai passar por um teste de HTP, que é um teste muito utilizado para nos ajudar a entender melhor a pessoa, onde a pessoa é solicitada a fazer alguns desenhos. Mas preocupado com o que pode ocorrer, ele recorre a um familiar, também psicólogo, que lhe ensina como deve fazer o desenho, o que deve evitar, e o que não deve esquecer, para que o resultado saia “melhor”. É claro que quando João for fazer o teste, o resultado será prejudicado, pois não vai corresponder à realidade dele. Isso seria o falseamento de um resultado, e só tende a atrapalhar o tratamento.

Alguns testes de Psicologia podem parecer fáceis de fazer na visão dos pacientes e clientes, mas requerem um conhecimento próprio depois para serem avaliados e interpretados, e aí sim termos um resultado. Não basta aplicar o teste, tem que saber como corrigi-lo e o que fazer com o resultado produzido. Por isso pertence apenas a quem dedicou-se a estudar sua estrutura e possui o conhecimento para todas as etapas deles, que no caso, são os psicólogos.

Então, temos todo o cuidado para que ninguém que não seja psicólogo tenha acesso a esses detalhes, nem conheça de que forma esse teste é interpretado. Colocá-lo numa revista pode até não ensinar como ele é feito, mas fará com que muitas pessoas tenham acesso desnecessário a ele, produzam resultados que elas mesmas não saberão lidar e acabe por retirar a validade cientifica do teste. Além do que nenhum psicólogo o estará aplicando.

Nosso Conselho constantemente fiscaliza e estuda tantos os novos testes como os já existentes, para que haja o cuidado de saber se eles ainda funcionam como devem. Aqueles que são considerados tendo validade, é porque funcionam.


Então se você fez um “teste” em algumas dessas revistas, no máximo era um questionário ou uma brincadeira, que divertida e atrai leitores, mas não era um teste psicológico válido.





 Andre Borghi.

Eu não preciso tomar remédios se eu estiver me tratando com psicólogos ?



Se você estiver em tratamento com um psicólogo, e um psiquiatra tiver receitado remédios, saiba que uma coisa não anula a outra, a não ser casos muito especiais que certamente serão informados a você.

Na verdade, as pesquisas recentes na área de saúde mental demonstram que a soma de psicoterapia e tratamento com remédios, ou seja, a aliança entre um psicólogo e um psiquiatra, tende a ter resultados muito melhores do que uma ou outra coisa sozinha para a gigantesca maioria das patologias mentais.

É perigoso ao paciente parar por conta própria de tomar um remédio psiquiátrico. O psiquiatra é quem deve acompanhar e orientá-lo na melhor forma, e caso o remédio esteja causando efeitos colaterais indesejáveis, cabe ao paciente conversar com seu médico para que ele verifique se não há outro remédio que possa ser menos inconveniente. Mas nunca deve iniciar ou parar um tratamento medicamentoso por conta própria.

Também não cabe a um psicólogo desautorizar a prescrição de um psiquiatra, e vice-versa. Cada um deve respeitar sua área. É muito melhor a ambos os profissionais, e melhor ainda ao paciente, que conversem entre si caso haja discórdia ou visões diferentes sobre a situação. Isso é conhecido como multidisciplinaridade, quando profissionais de diferentes áreas se unem pelo bem de seus pacientes, e não entram em uma briga de poder por ele.

Há distúrbios e problemas específicos que precisam do acompanhamento de um psiquiatra, e se couber ao psicólogo explicar ao paciente a importância disso, bem como tranqüilizá-lo frente a vários medos que as pessoas possuem da Psiquiatria (outra área de ciência que sofre bastante com crenças equivocadas), terá ajudado muito o processo de tratamento.



Andre Borghi

Os testes psicológicos são fáceis de aplicar e estão sempre certos ?



Para se aplicar um teste psicológico, seja na clínica, seja na área organizacional, na educacional, seja em qual área da Psicologia for, o psicólogo precisa saber porque está aplicando esse teste. Ou seja, não se aplica só porque é divertido, ou porque parece bonito, ou porque pode dar mais credibilidade. Aplica-se porque é preciso.

Testes são auxiliares de diagnóstico, sendo que alguns deles podem ser aplicados coletivamente. Quando um psicólogo precisa realizar um diagnóstico, ou mesmo simplesmente conhecer melhor seu paciente, além do histórico e daquilo que lhe foi dito, os testes podem ser usados para ajudar nesse processo. Ou seja, é apenas uma das várias ferramentes a serem utilizadas. Portanto, a primeira questão é se o teste é de fato necessário.

Existe uma diversidade de testes, para várias finalidades diferentes. Dos testes projetivos muito utilizados pelo pessoal de Psicanálise, aos inventários e testes cognitivos, muito utilizados pelo pessoal de TCC. Portanto, depois de definir que a pessoa precisa passar por um teste para melhor elaborar um trabalho com ela, a próxima questão é qual teste mais adequado para aquela pessoa e para a finalidade que se pretende com ela.

Portanto, existem pessoas que odeiam desenhar, e nesse caso talvez seja contraprodutivo aplicar um HTP. Ou se você precisa detectar situações neurológicas mais específicas, talvez seja melhor aplicar um Bender. Se quer apenas avaliar níveis de ansiedade e depressão, os inventários de Beck podem ser mais indicados. Dependendo do que ser quer detectar, e qual o tipo de paciente você tem a sua frente, escolhe-se esse ou aquele teste.

A seguir, é preciso mencionar algo que pode lhe parecer óbvio: é necessário saber aplicar e interpretar corretamente os resultados deste teste. De fato é óbvio, mas não tanto para vários colegas de profissão que não atentam para os pormenores dessa questão, ou para profissionais de outras áreas que insistem em aplicar testes para os quais não foram suficientemente treinados. Uma aplicação errada do teste pode interferir diretamente no resultado final do teste.

Por exemplo, para todos os testes aplicados, é necessário adaptar o ambiente e torná-lo adequado à pessoa que irá realizar o teste. Vou usar um exemplo clássico que inúmeras pessoas já passaram, que se trata dos testes psicotécnicos para se conseguir uma carteira de habilitação para dirigir. Lá existem vários testes, mas dois deles devem sobressair em sua memória, um de atenção concentrada em que você precisava definir uma sequência lógica, e outro em que fazia “pauzinhos” em sequência, chamado Palográfico.

Agora imagine que enquanto você realiza esses testes, há crianças fazendo barulho do lado de fora da sala, que não é adequadamente protegida dos sons externos, ou que a luz acima da sua cabeça fica piscando porque tem defeito, ou ainda o psicólogo resolve atender em alto e bom som seu celular. Que tal então uma parede cheia de anúncios e cartazes, no caso de você ser uma pessoa que se distrai facilmente. Em qualquer dessas situações, acha que se sairía tão bem em ambos os testes, do que se sairía se estivesse num ambiente silencioso, sem coisas que desviem sua atenção, com boa luminosidade e temperatura agradável?

Com certeza haveria uma diferença, por isso é importante preparar o ambiente. Imaginemos agora uma situação em que você vai realizar um teste e o psicólogo não lhe explica corretamente como você deve proceder, ou ele não possui boa dicção, e você quando pede para repetir as instruções, ele se nega. Como você realizará um bom teste?

Portanto, além de preparar o ambiente, o psicólogo que for aplicar o teste precisa estar inteirado das instruções para saber explicar ao seu paciente de modo que ele entenda completamente antes de iniciar o teste. Se for necessário explicar novamente, deve explicar.

E ao longo do teste, precisa saber seguir suas etapas de modo correto. O teste de Rorschach, por exemplo, é simples para quem realiza, mas exige do profissional uma séria de atenção a detalhes para ser registrado enquanto ele é feito. Se ele errar nesses momentos, pode interferir no resultado final.
Então como você deve estar percebendo, antes de aplicar um teste o psicólogo deve considerar várias coisas:

- Necessidade: porque preciso aplicar esse teste?
- Finalidade: o que quero com esse teste?
- Adequação para objetivo: qual teste é o mais apropriado para o que quero avaliar?
- Adequação para paciente(s): qual teste é o mais adequado para meu(s) paciente(s)?
- Capacidade de aplicação: Sei aplicar corretamente esse teste em todas as suas fases?
- Capacidade de lidar com o resultado: Agora que consegui aplicar e tenho o resultado, sei como proceder com ele?

Essa última reflexão é das mais importantes. Como dito anteriormente, os testes são uma tecnologia fantástica da Psicologia, que muito nos ajuda, mas são auxiliares no processo de diagnóstico. Significa que eles sozinhos não definem nada, mas ajudam, juntamente com outras técnicas, a se chegar a uma conclusão.

O psicólogo clínico, a partir daí, irá estudar seus resultados em conjunto com o que obteve nas sessões, na anamnese (história do paciente), na observação de seu comportamento. Assim também irá agir o psicólogo organizacional, ao selecionar candidatos para uma vaga de emprego, por exemplo, considerando não apenas o teste, mas a entrevista e o currículo.

Se o resultado de um teste for diferente do que se vinha pensando com as outras técnicas, é um bom momento para repensar o diagnóstico. Talvez seja preciso refazer o teste, ou aplicar outro semelhante, ou rever a entrevista e a anamnese. O teste é feito para nos ajudar a pensar, mas ele sozinho não irá definir nada. São como os exames que o  médico clínico geral pede, vários deles para comparar os resultados, com o que você diz, e juntar tudo isso para tentar identificar seu problema.

Importante ainda lembrar, que mesmo o diagnóstico conseguido, bonitinho, coerente, não é fechado. Se ao longo do tratamento novas evidências surgirem de que o problema é outro, a todo momento o psicólogo poderá rever o que pensava anteriormente.


Andre Borghi.

Livros de auto-ajuda e esotéricos funcionam da mesma forma que Psicologia

“ Eu não preciso de psicólogos se ler um bom livro de auto-ajuda”
Best Seller de auto-ajuda


E talvez não precise mesmo, se o livro for capaz de ajudar você no que você queria. No entanto, ao falar desse mito, meu objetivo não é menosprezar os autores de auto-ajuda, mas deixar claro que Psicologia não é auto-ajuda, e vice-versa.

Eu não serei prepotente, como infelizmente alguns colegas de profissão às vezes deixam entender, de dizer que a Psicologia dá conta de tudo é o único tratamento válido que pretende substituir os demais. Não é. Pessoas podem encontrar alento, alívio e resposta para seus problemas nas religiões, em conversas triviais, na yoga e mesmo em livros, e numa outra infinidade de outras atividades, como também em nossos serviços. A escolha é de cada ser humano ao buscar ajuda, e não somos os únicos que podemos ajudá-los.

Há pessoas que resolvem seus problemas lendo a bíblia, outras lendo o Corão, outras lendo os Vedas hindus, outras nem precisam ler livros sagrados para religiões, há pessoas que encontram respostas lendo “Quem roubou meu queijo”.

Contudo, de vez em quando entramos em livrarias e encontramos aqueles livros de auto-ajuda e mesmo livros exotéricos e/ou religiosos na sessão de Psicologia, e isso infelizmente contribui para que as pessoas confundam as coisas. Há autores que são psicólogos, e alguns muito famosos e lidos, que utilizam teorias científicas da área para validar suas crenças pessoais, dando-lhe uma roupagem científica, quando na verdade uma coisa é crença religiosa e outra coisa é ciência. Cada uma com sua importância, mas ambas bem demarcadas.

A Psicologia ainda hoje sofre com um ar de esoterismo na imagem que o grande público tem dela, enquanto por muitos anos seus estudiosos têm tentado mantê-la como uma ciência humana. Esse esforço será inútil se nós mesmos continuarmos tratanto a Psicologia como “arte”, ou como um amontoado de quaisquer coisas que possam ser feitas. Se ela é uma ciência, e queremos ser respeitados como tal, então devemos tratá-la como ciência.

Livro "O Segredo", exemplar de pensamento mágico.
Portanto, a Psicologia não produz livros psicografados (escritos ou ditados por pessoas já falecidas), livros como “O Segredo”, que estimulam as pessoas a acharem que basta desejar as coisas para obtê-las (algo que em Psicologia chamamos de "pensamento mágico") e não produz livros de auto-ajuda, que ensinam que o pensamento positivo - ele sozinho - permite resolver as coisas.  Produz, sim, livros específicos que podem ajudar pessoas a se familiarizarem e lidarem com problemas com base nas pesquisas em Psicologia e com aval científico. 

Enquanto profissionais, não conduzimos tratamentos apenas pedido a alguém que leia um livro, e portanto, se assim fizéssemos, seríamos relapsos e incompletos. Ler um livro, informar-se, pensar positivamente sobre as coisas, tudo isso contribui para a melhoria dos problemas, mas em nossa prática, isso são técnicas que fazem parte de uma engrenagem maior. E que deve sempre ter um fundamento científico.

Para exemplificar, não se trata uma pessoa que esteja depressiva fazendo-a ler "O Segredo". Trata-se de forma científica, com as psicoterapias cabíveis a ela, e em conjunto com a farmacologia prescrita por um psiquiatra. Se a pessoa por vontade própria quiser ler um livro de auto-ajuda nesse processo porque pensa que lhe fará bem, ela tem a inteira liberdade para fazê-lo. Mas seu psicólogo tem como dever agir cientifica e eticamente com seu paciente.

Portanto, sempre algo bom e válido pode ser tirado de um bom livro, seja ele qual for, mas tenha em mente que livros de auto-ajuda não são livros de Psicologia, e o que fazemos nos consultórios e em nossa produção literária, não é auto-ajuda.

Andre Borghi

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dicas de como comportar-se numa entrevista de emprego

Introdução     

A imagem é sempre seu cartão de visita. Após ter se mostrado através de seu currículo (clique aqui para dicas de como fazer um currículo) e gerado interesse nas pessoas que o analisaram, agora elas irão chamá-lo para fazer entrevistas e possivelmente alguns testes. Elas precisam ter certeza que você tem as características necessárias para aquela vaga que você está concorrendo. Dessa forma, você poderá convencê-los com o que sabe, com as habilidades que possui e com os conhecimentos que adquiriu estudando. 

Mas também é muito importante o modo como você se comporta. Se você tem um comportamento bem visto dentro da entrevista, isso diz aos selecionadores que provavelmente você terá um bom comportamento em seu futuro ambiente de trabalho. O contrário também é verdade. Se você ofender os selecionadores, por exemplo, o que espera que eles pensem sobre você em seu futuro trabalho? Portanto, o comportamento é também observado e conta muito. 

Não entenda bom comportamento apenas como aquela imagem da criança quietinha. Às vezes é necessário que você não fique quietinho, se você está tentando um emprego que exige iniciativa. Entenda, sim, como um repertório de atitudes que estão de acordo com o que se espera de você. 

Por exemplo, se a vaga é para vendedor, espera-se uma pessoa com iniciativa, que saiba se expressar, que tenha boa capacidade de argumentação. Afinal, no seu trabalho, essa pessoa irá precisar convencer clientes a comprar produtos. Se durante a entrevista o candidato a essa vaga se mostra falando baixo, com poucas palavras, com pouca argumentação, fará com que os selecionadores pensem que ele não é o candidato ideal.

Se o cargo exige atenção, espera-se que já na entrevista a pessoa consiga ignorar o som dos carros lá fora e as conversas alheias para se ater apenas ao seu processo seletivo. Imagine uma pessoa que precisará operar uma máquina perigosa e que fica distraída olhando as brincadeiras dos outros colegas. Certamente, esse candidato não seria bem visto.

Portanto, entre várias coisas que a entrevista detecta, o comportamento é uma delas, e normalmente segue essa lógica. É como uma visão antecipada (preview) do candidato sobre como ele será em seu futuro trabalho.

Nesse artigo mostraremos algumas dicas que podem melhorar suas chances durante as entrevistas de emprego.

Como se apresentar durante a entrevista

1. Deixe em casa as roupas coloridas, saias justas, bijuterias grandes, o sapato velho e desgastadas.

2. Usar roupa adequada à função que pretende trabalhar e sapatos engraxados. Para as mulheres, não usar blusa transparente ou decotada, bem como saia curta, higiene pessoal caprichada;

O modo de uma pessoa se vestir não define seu caráter, mas pode dar dicas importantes de comportamentos e objetivos da pessoa. Alguns exemplos são clássicos, como uma candidata que talvez não se sinta capaz de concorrer a vaga pelos meios que realmente interessam, e capricha na sensualidade de suas roupas na esperança de passar por um selecionador masculino. É preciso entender que as características requeridas pelas empresas passam por capacidades que nada tem a ver com beleza física. Uma roupa demasiada colorida pode demonstrar irreverência exagerada, e uma roupa desgastada ou apresentar-se com odores desagradáveis, dar impressão de desleixo. Portanto, ao se vestir para uma entrevista de emprego, recomenda-se o básico, o equilíbrio e o bom senso.

3.Cabelos cortados, arrumados e penteados e unhas bem cuidadas;

4.Não fumar durante a entrevista; 

6.Não beber no dia anterior da entrevista;

7.Não comer alho ou cebola no dia da entrevista;

8.Nunca usar óculos de sol durante a entrevista; 

9. Ser cordial com todos durante o processo, desde a secretária até o selecionador.

Isso demonstra diretamente não apenas sua educação, como sua capacidade de se relacionar com pessoas, algo extremamente importante para a grande maioria das vagas em nossos tempos atuais. A capacidade de relacionar-se, de não perder a compostura mesmo perante situações que pareçam estressantes, é muito bem visto pelos empregadores. 


O que e como falar durante a entrevista

1.Cuidar da concordância verbal, não usar gírias ou palavrões.

2. Seja claro e objetivo em suas respostas. 

Os entrevistadores não estão interessados em histórias de família, ou problemas que possam existir com parentes, ou qualquer outro detalhe que não tenha sido requerido ou que você mesmo perceba que não é essencial. Limite-se a responder tranquilamente o que lhe for perguntado, dando as informações necessárias para o assunto em questão. 

Em alguns modelos de entrevista (por competências, por exemplo), costuma-se perguntar ao candidato se anteriormente existiu algum problema onde ele trabalhava, e ele tenha feito algo que resolveu esse problema. Nesse caso, é necessário contar qual era o problema, o que ele fez, e que resultado obteve. Mas não é necessário criticar a empresa, ou um colaborador que tenha causado o problema, ou descrever tudo tão detalhadamente que demore demais. Portanto, é importante ser objetivo, claro, e evitar ser prolixo.

3. Diga sempre a verdade. 

Não apenas isso contará muito sobre sua honestidade, como mesmo se você não conseguir a vaga terá deixado uma imagem verdadeira nas mãos dos entrevistadores, que poderão chamá-lo para outra vaga em outra ocasião. Mentir nas entrevistas nunca é sábio, e pode complicá-lo no futuro. Além do que na maioria dos casos tais mentiras podem ser detectadas por bons entrevistadores.

O que não se deve falar durante as entrevistas

1. Não reclamar da localização da empresa;

      2.  Não apontar aspectos negativos das atividades da empresa;

     3Não reclamar dos seus problemas pessoais, nem fale deles;

     4. Não reclamar do emprego anterior, nem dos colegas ou ex chefe;

     5. Não discutir política, religião, esportes, etc. (assuntos irrelevantes para o processo)
   
     6. Não falar do assunto salário antes da hora certa.


     Sabemos, é claro, que o salário é um dos fatores importantes para os candidatos. Mas você será solicitado a falar sobre ele pelos entrevistadores, espere esse momento. Ser incisivo cedo demais poderá dar a idéia de que sua única motivação para o trabalho é o salário, e muitas empresas não se satisfazem com isso. É preciso demonstrar, além do ganho financeiro, que sua vontade de evoluir como profissional e contribuir com a empresa que abriu a vaga também existe.

      Comportamentos que causam boa impressão

     1. Dar situações de contorno aos pontos fracos. Ex: "Fala inglês? Não, mas falo o espanhol.."

     2. Cuidar da postura do corpo. Falar com a cabeça na posição correta. Nunca abaixada ou erguida demais;
    
3. Olhar sempre nos olhos do entrevistador. E nunca falar nem alto nem baixo demais.

4. Não antecipar as perguntas do entrevistador. Deixe que ele direcione a entrevista. 

5. Se não souber uma resposta, diga ao entrevistador que não sabe. Seja honesto sempre. 
6. Procurar obter informações com antecedência sobre a empresa na qual pretende trabalhar. 

Dessa forma você não só aumenta suas chances em relação aos outros candidatos, como facilita possíveis perguntas sobre a empresa na entrevista. 

7. Revise e estude seu currículo cuidadosamente. Esteja pronto para explicar cada movimento e conquista que realizou ao longo da carreira;
    8. Não dê vexame, saiba o nome e cargo do entrevistador. Ele irá se apresentar no momento em que entrar em contato com você. Saiba também o local e o horário da entrevista;

    9.  Leve cópias do currículo, anotações sobre suas competências e objetivos, papel e caneta
        
       E mais:

10. Não esqueça que você pode ser avaliado desde o momento em que pisa na empresa. Portanto, trate bem a secretária e os assessores

11. Pense que a entrevista é o seu primeiro dia de trabalho. Sua atitude deve ser a de quem está ali para discutir um projeto, e não a de quem está mendigando um trabalho. 

12.Tente manter a autoconfiança. Afinal, ainda não existe empresa no universo que valorize profissionais inseguros e sem iniciativa;

13. Reflita bem antes de responder. Não se precipite, mas também não enrole. Jamais dê respostas monossilábicas, como “sim” e “é”;

14. Não saia da sala antes de fazer as perguntas ao recrutador. Verifique como será o processo de seleção daquele momento para frente.

    Como se comportar depois da entrevista

    Volte para casa e analise a entrevista. Verifique o que funcionou e o que não deu certo e como poderia melhorar na próxima ocasião;

    Há selecionadores diferentes no mercado, assim como acontece com qualquer profissão no mundo. Há os bons, os ruins, aqueles que realmente fazem com prazer seu trabalho, e aqueles que fazem apenas por necessidade. Portanto, você encontrará selecionadores que ao verificarem que você errou em algum ponto importante, lhe darão dicas de como melhorar para que da próxima vez que você participar do processo tenha mais chances de conseguir um bom resultado. E existem aqueles que não farão isso. Para todos esses casos, nós da Gestalt apresentamos esse artigo detalhado para quem ainda não teve acesso à essas informações valiosas, porque acreditamos que nossa missão como profissionais de Recursos Humanos, além de realizar nossos serviços com qualidade, é educar nossos candidatos no sentido de ajudá-los no futuro, mesmo quando não selecionados. E isso porque gostamos do que fazemos ;-)

    Se você não tiver noticias nenhuma após duas semanas, ligue para o recrutador e verifique se ele precisa de mais algum dado sobre você.

    Da mesma forma, há selecionadores que não atentam para dar uma resposta aos candidatos que não foram selecionados, e por isso alguns deles ficam ansiosos à espera e podem até mesmo perder outras oportunidades que venham a surgir. Acreditamos também que esse mau hábito de não dar-lhes retorno é minimamente uma falta de sensibilidade para com as pessoas. Mas no caso de você participar de um processo no qual não receba a resposta, você pode tomar a liberdade de procurar saber, sempre com educação, é claro.

    Concluindo

    Sejamos sinceros, nem mesmo toda essa preparação vai acabar de vez com o desconforto que é enfrentar uma entrevista. Afinal trata-se de um momento em que você está sendo avaliado por um estranho, cada palavra, gesto e movimento pode fazer a diferença.

    Há o receio de ser mal interpretado, rejeitado e, por fim, de perder uma grande oportunidade. Mas se render ao desespero é a pior saída. Vá em frente. Prepare-se bem. Seja você mesmo, e procure sempre aprender algo quando se deparar com esse tipo de situação. 
    O segredo é não desistir e procurar sempre melhorar, se atualizar. Para os bons profissionais, sempre existem vagas. Se em algum processo você não conseguiu, não significa que não conseguirá nos próximos. Suas chances na realidade até aumentam, pois você certamente não cometerá os mesmos erros que possivelmente cometeu nos processos anteriores.

    Acredite, e boa sorte. 
    Se você, leitor, tiver mais alguma dúvida, entre em contato conosco através de nossos emails


    Andre Borghi.
    Nívia Carvalho.