sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Psicólogos não estão te analisando todo o tempo

Outro mito muito parecido com a adivinhação de pensamentos. E esse erro parte metade por uma crença popular sobre o que é “analisar”, e metade por nossa própria culpa, dos psicólogos.

Em primeiro lugar, nem todos os psicólogos analisam seus pacientes, isso depende de qual abordagem esse ou aquele utiliza, normalmente é mais utilizada como técnica pelos psicólogos de base ou inspiração psicanalítica. A própria palavra analisar normalmente é confundida com diagnosticar. Assim as pessoas tanto possuem medo de que os profissionais de Psicologia saiam analisando seus problemas, como que saiam dando doenças para elas.

No entanto, tanto a análise daqueles que utilizam essa técnica, quando o diagnóstico, nunca é possível em uma conversa trivial. Se você encontrar um psicólogo na rua e conversar com ele, ele pode até tentar analisar, mas não conseguirá muita coisa. Se você conversar com um deles pelo MSN e contar seus problemas, ele pode tentar entender qual patologia você tem, se tiver, mas não terá certeza e não poderá portanto dar um diagnóstico.

Isso acontece porque tanto a análise quanto o diagnóstico são coisas complexas feitas pelos psicólogos. Elas precisam de tempo, de várias perguntas, de um local apropriado que normalmente é um consultório. Não pode ser feito brincando e rapidinho numa conversa na rua. 

Apesar de o Conselho Federal de Psicologia atualmente permitir as consultas via internet, eu particularmente não confio ainda na eficácia desse modo de atuar, pois não conta com a presença física da pessoa. Como vimos no primeiro mito da adivinhação de pensamentos, os gestos, o tom de voz, as expressões faciais, são coisas muito importantes, e mesmo uma câmera (webcam) não substituirá a experiência de estar cara a cara com o paciente.

Como visto, psicólogos não estarão te analisando se você não estiver em tratamento com eles. Se você conheceu alguém que fez isso, conheceu alguém que apenas brincou de analisar.

Isso pode ter um motivo simples, e é aí que entra nossa própria culpa. Na faculdade, há determinadas matérias que são empolgantes por si mesmas, como o estudo das patologias mentais (Psicopatologia), os testes, os comportamentos esperados, os tipos de personalidade, e tudo isso acaba empolgando os estudantes, que podem se pegar diagnosticando e analisando pessoas, seus amigos e até mesmo seus parentes. Isso é normal, ainda são estudantes e estão admirados com os novos conhecimentos que obtiveram, e talvez ainda não tenham aprendido a utilizá-los de modo adequado socialmente. É como uma forma de treinamento meio grosseiro, que por um lado ajuda na aprendizagem, mas por outro pode irritar as pessoas, que acabam servindo de cobaias. Esse tipo de comportamento não é incentivado na formação, muito pelo contrário, mas sabemos que ocorre.

No entanto, uma vez formados, psicólogos devem agir ainda mais rigidamente em relação a ética de sua profissão do que os estudantes. Agora não precisam mais estar empolgados, já passaram pelos estágios, e devem saber usar com sabedoria o que aprenderam.

Então se você conheceu alguém que te analisou sem que você tivesse solicitado seus serviços ou sequer uma opinião, e você se ofendeu com isso, tenha em mente que essa pessoa representa uma minoria, que isso não é apropriado em nossa profissão e caso queira, lembre-o que em sua formação foi dito para que evitasse tal comportamento. Ele certamente se lembrará ;-)

Andre Borghi


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