quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Livros de auto-ajuda e esotéricos funcionam da mesma forma que Psicologia

“ Eu não preciso de psicólogos se ler um bom livro de auto-ajuda”
Best Seller de auto-ajuda


E talvez não precise mesmo, se o livro for capaz de ajudar você no que você queria. No entanto, ao falar desse mito, meu objetivo não é menosprezar os autores de auto-ajuda, mas deixar claro que Psicologia não é auto-ajuda, e vice-versa.

Eu não serei prepotente, como infelizmente alguns colegas de profissão às vezes deixam entender, de dizer que a Psicologia dá conta de tudo é o único tratamento válido que pretende substituir os demais. Não é. Pessoas podem encontrar alento, alívio e resposta para seus problemas nas religiões, em conversas triviais, na yoga e mesmo em livros, e numa outra infinidade de outras atividades, como também em nossos serviços. A escolha é de cada ser humano ao buscar ajuda, e não somos os únicos que podemos ajudá-los.

Há pessoas que resolvem seus problemas lendo a bíblia, outras lendo o Corão, outras lendo os Vedas hindus, outras nem precisam ler livros sagrados para religiões, há pessoas que encontram respostas lendo “Quem roubou meu queijo”.

Contudo, de vez em quando entramos em livrarias e encontramos aqueles livros de auto-ajuda e mesmo livros exotéricos e/ou religiosos na sessão de Psicologia, e isso infelizmente contribui para que as pessoas confundam as coisas. Há autores que são psicólogos, e alguns muito famosos e lidos, que utilizam teorias científicas da área para validar suas crenças pessoais, dando-lhe uma roupagem científica, quando na verdade uma coisa é crença religiosa e outra coisa é ciência. Cada uma com sua importância, mas ambas bem demarcadas.

A Psicologia ainda hoje sofre com um ar de esoterismo na imagem que o grande público tem dela, enquanto por muitos anos seus estudiosos têm tentado mantê-la como uma ciência humana. Esse esforço será inútil se nós mesmos continuarmos tratanto a Psicologia como “arte”, ou como um amontoado de quaisquer coisas que possam ser feitas. Se ela é uma ciência, e queremos ser respeitados como tal, então devemos tratá-la como ciência.

Livro "O Segredo", exemplar de pensamento mágico.
Portanto, a Psicologia não produz livros psicografados (escritos ou ditados por pessoas já falecidas), livros como “O Segredo”, que estimulam as pessoas a acharem que basta desejar as coisas para obtê-las (algo que em Psicologia chamamos de "pensamento mágico") e não produz livros de auto-ajuda, que ensinam que o pensamento positivo - ele sozinho - permite resolver as coisas.  Produz, sim, livros específicos que podem ajudar pessoas a se familiarizarem e lidarem com problemas com base nas pesquisas em Psicologia e com aval científico. 

Enquanto profissionais, não conduzimos tratamentos apenas pedido a alguém que leia um livro, e portanto, se assim fizéssemos, seríamos relapsos e incompletos. Ler um livro, informar-se, pensar positivamente sobre as coisas, tudo isso contribui para a melhoria dos problemas, mas em nossa prática, isso são técnicas que fazem parte de uma engrenagem maior. E que deve sempre ter um fundamento científico.

Para exemplificar, não se trata uma pessoa que esteja depressiva fazendo-a ler "O Segredo". Trata-se de forma científica, com as psicoterapias cabíveis a ela, e em conjunto com a farmacologia prescrita por um psiquiatra. Se a pessoa por vontade própria quiser ler um livro de auto-ajuda nesse processo porque pensa que lhe fará bem, ela tem a inteira liberdade para fazê-lo. Mas seu psicólogo tem como dever agir cientifica e eticamente com seu paciente.

Portanto, sempre algo bom e válido pode ser tirado de um bom livro, seja ele qual for, mas tenha em mente que livros de auto-ajuda não são livros de Psicologia, e o que fazemos nos consultórios e em nossa produção literária, não é auto-ajuda.

Andre Borghi

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