quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Os testes psicológicos são fáceis de aplicar e estão sempre certos ?



Para se aplicar um teste psicológico, seja na clínica, seja na área organizacional, na educacional, seja em qual área da Psicologia for, o psicólogo precisa saber porque está aplicando esse teste. Ou seja, não se aplica só porque é divertido, ou porque parece bonito, ou porque pode dar mais credibilidade. Aplica-se porque é preciso.

Testes são auxiliares de diagnóstico, sendo que alguns deles podem ser aplicados coletivamente. Quando um psicólogo precisa realizar um diagnóstico, ou mesmo simplesmente conhecer melhor seu paciente, além do histórico e daquilo que lhe foi dito, os testes podem ser usados para ajudar nesse processo. Ou seja, é apenas uma das várias ferramentes a serem utilizadas. Portanto, a primeira questão é se o teste é de fato necessário.

Existe uma diversidade de testes, para várias finalidades diferentes. Dos testes projetivos muito utilizados pelo pessoal de Psicanálise, aos inventários e testes cognitivos, muito utilizados pelo pessoal de TCC. Portanto, depois de definir que a pessoa precisa passar por um teste para melhor elaborar um trabalho com ela, a próxima questão é qual teste mais adequado para aquela pessoa e para a finalidade que se pretende com ela.

Portanto, existem pessoas que odeiam desenhar, e nesse caso talvez seja contraprodutivo aplicar um HTP. Ou se você precisa detectar situações neurológicas mais específicas, talvez seja melhor aplicar um Bender. Se quer apenas avaliar níveis de ansiedade e depressão, os inventários de Beck podem ser mais indicados. Dependendo do que ser quer detectar, e qual o tipo de paciente você tem a sua frente, escolhe-se esse ou aquele teste.

A seguir, é preciso mencionar algo que pode lhe parecer óbvio: é necessário saber aplicar e interpretar corretamente os resultados deste teste. De fato é óbvio, mas não tanto para vários colegas de profissão que não atentam para os pormenores dessa questão, ou para profissionais de outras áreas que insistem em aplicar testes para os quais não foram suficientemente treinados. Uma aplicação errada do teste pode interferir diretamente no resultado final do teste.

Por exemplo, para todos os testes aplicados, é necessário adaptar o ambiente e torná-lo adequado à pessoa que irá realizar o teste. Vou usar um exemplo clássico que inúmeras pessoas já passaram, que se trata dos testes psicotécnicos para se conseguir uma carteira de habilitação para dirigir. Lá existem vários testes, mas dois deles devem sobressair em sua memória, um de atenção concentrada em que você precisava definir uma sequência lógica, e outro em que fazia “pauzinhos” em sequência, chamado Palográfico.

Agora imagine que enquanto você realiza esses testes, há crianças fazendo barulho do lado de fora da sala, que não é adequadamente protegida dos sons externos, ou que a luz acima da sua cabeça fica piscando porque tem defeito, ou ainda o psicólogo resolve atender em alto e bom som seu celular. Que tal então uma parede cheia de anúncios e cartazes, no caso de você ser uma pessoa que se distrai facilmente. Em qualquer dessas situações, acha que se sairía tão bem em ambos os testes, do que se sairía se estivesse num ambiente silencioso, sem coisas que desviem sua atenção, com boa luminosidade e temperatura agradável?

Com certeza haveria uma diferença, por isso é importante preparar o ambiente. Imaginemos agora uma situação em que você vai realizar um teste e o psicólogo não lhe explica corretamente como você deve proceder, ou ele não possui boa dicção, e você quando pede para repetir as instruções, ele se nega. Como você realizará um bom teste?

Portanto, além de preparar o ambiente, o psicólogo que for aplicar o teste precisa estar inteirado das instruções para saber explicar ao seu paciente de modo que ele entenda completamente antes de iniciar o teste. Se for necessário explicar novamente, deve explicar.

E ao longo do teste, precisa saber seguir suas etapas de modo correto. O teste de Rorschach, por exemplo, é simples para quem realiza, mas exige do profissional uma séria de atenção a detalhes para ser registrado enquanto ele é feito. Se ele errar nesses momentos, pode interferir no resultado final.
Então como você deve estar percebendo, antes de aplicar um teste o psicólogo deve considerar várias coisas:

- Necessidade: porque preciso aplicar esse teste?
- Finalidade: o que quero com esse teste?
- Adequação para objetivo: qual teste é o mais apropriado para o que quero avaliar?
- Adequação para paciente(s): qual teste é o mais adequado para meu(s) paciente(s)?
- Capacidade de aplicação: Sei aplicar corretamente esse teste em todas as suas fases?
- Capacidade de lidar com o resultado: Agora que consegui aplicar e tenho o resultado, sei como proceder com ele?

Essa última reflexão é das mais importantes. Como dito anteriormente, os testes são uma tecnologia fantástica da Psicologia, que muito nos ajuda, mas são auxiliares no processo de diagnóstico. Significa que eles sozinhos não definem nada, mas ajudam, juntamente com outras técnicas, a se chegar a uma conclusão.

O psicólogo clínico, a partir daí, irá estudar seus resultados em conjunto com o que obteve nas sessões, na anamnese (história do paciente), na observação de seu comportamento. Assim também irá agir o psicólogo organizacional, ao selecionar candidatos para uma vaga de emprego, por exemplo, considerando não apenas o teste, mas a entrevista e o currículo.

Se o resultado de um teste for diferente do que se vinha pensando com as outras técnicas, é um bom momento para repensar o diagnóstico. Talvez seja preciso refazer o teste, ou aplicar outro semelhante, ou rever a entrevista e a anamnese. O teste é feito para nos ajudar a pensar, mas ele sozinho não irá definir nada. São como os exames que o  médico clínico geral pede, vários deles para comparar os resultados, com o que você diz, e juntar tudo isso para tentar identificar seu problema.

Importante ainda lembrar, que mesmo o diagnóstico conseguido, bonitinho, coerente, não é fechado. Se ao longo do tratamento novas evidências surgirem de que o problema é outro, a todo momento o psicólogo poderá rever o que pensava anteriormente.


Andre Borghi.

2 comentários:

  1. Sou formada na área de Gestão de Recursos Humanos, sei que não posso corrigir estes teste, mais minha dúvida é se posso aplicá-los

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  2. Olá, na realidade também não pode aplicar. Embora alguns deles sejam mais fáceis no procedimento de aplicação tratam-se de instrumentos técnicos de exclusivo uso e manuseio daqueles que possuem formação em Psicologia. Existem alguns detalhes na aplicação que invariavelmente interferem no resultado e que precisam da arcabouço teórico completo da Psicologia, já que por ela foram desenvolvidos, para lidar.
    Agradeço o comentário, e espero ter esclarecido sua dúvida ;-)

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